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Jogo da Guerra - Projetos

#jogodaguerra

Sobre a temporada de estreia de Jogo da Guerra em Florianópolis e a finalização do projeto Kriegsspiel – Edital Elisabete Anderle 2017: da ameaça à liberdade à cena coletiva. #jogodaguerra. (ENGLISH BELOW)

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O êxito das apresentações de Jogo da Guerra, o mais recente espetáculo do ERRO, no centro de Florianópolis, não se deu aos moldes do sucesso que normalmente esperamos de ações culturais, mas, sim, pela surpresa quanto às expectativas do próprio grupo e, é claro, de quem compareceu à temporada para presenciar a obra. A participação, a coletividade e a presença das pessoas – um total de aproximadamente 500 em 10 apresentações no final de maio e no último mês de junho – foram bastante positivas, assim como as ideias e inspirações que ficaram para os próximos passos do grupo.

Além disso, o espetáculo também arrecadou doações como ingresso (duas partes da peça ocorrem nas ruas e uma terceira em um espaço interno cuja entrada se dá mediante uma doação) – foram 50 quilos de alimentos e mais de 100 agasalhos que serão doados à comunidade do Morro dos Cavalos.

Em contrapartida, durante as apresentações de Jogo da Guerra, o ERRO precisou superar alguns obstáculos. Para o futuro, há ainda a incerteza sobre a captação de recursos para colocar novos projetos em prática, o que pode caracterizar um período “nebuloso”, de acordo com o diretor do ERRO, Pedro Bennaton.

Público guERREiro

Jogo da Guerra, uma obra em três partes, um tríptico, foi apresentado entre os dias 30 de maio e 19 de junho em três lugares distintos e simultâneos das ruas de Florianópolis. A estreia fez jus ao nome, pela guerra ser um período de caráter excepcional. Justamente naquele dia 30 de maio, o Brasil vivia tempos tensos com a greve dos caminhoneiros. Não havia combustível nos postos ou ônibus para as pessoas se locomoverem ao Centro de Florianópolis para assistir ao espetáculo, marcado para às 20h daquela quarta-feira, véspera de feriado Corpus Christi. Mesmo assim, um público “guERREiro” compareceu para prestigiar Jogo da Guerra e fazer parte do acontecimento que ainda tem seus rastros espalhados nos arredores da Rua Jerônimo Coelho (umas das ruas mais movimentadas e tradicionais da cidade).

Tensão nas ruas

Em Jogo da Guerra, as pessoas são constantemente convidadas a participar das ações. Inspirado nos protestos de Maio de 68, o espetáculo trata de nosso tempo atual e do que podemos fazer nas ruas. Nas primeiras apresentações, algumas performances precisaram ser ensaiadas com a Guarda Municipal e a Polícia Militar, mas com o passar do tempo o entendimento foi alcançado.

“A participação das pessoas na rua surpreendeu as nossas expectativas. E é óbvio que a Guarda Municipal e Polícia Militar dificultaram o nosso trabalho, com rondas durante a apresentação, com viaturas e abordagens em plena cena, sendo que enviamos, conforme fazemos há mais de cinco anos, comunicados a GM e PM sobre as apresentações. Contudo, conforme a temporada avançou, eles entenderam melhor a proposta e atuaram junto conosco em diversas apresentações. O que parecia uma ameaça à liberdade de expressão transformou-se em uma cena coletiva que só engrandeceu a potência de Jogo da Guerra”, disse o diretor do espetáculo e do ERRO Grupo, Pedro Bennaton. 

Para a diretora de arte e atriz Luana Raiter, a participação do público na decisão das ações de confronto representou um grande desafio para a equipe:

“Fazer o Jogo da Guerra, dez vezes no centro de Florianópolis, foi um grande desafio para a equipe, isso porque, os locais nos quais as ações externas ocorrem (ações de confronto) são decididos junto ao público e pontos representativos de poder foram muitas vezes repetidos. Os locais mais combatidos foram os bancos privados, megacadeias de fast-food e igrejas. Outro ponto que se repetiu foi a Figueira da Praça XV, que configurava esta representação do poder do homem sobre a natureza, onde a natureza é deslocada, isolada e posta a serviço do turismo e seus lucros”, descreveu Luana Raiter, diretora de Arte e atriz do ERRO Grupo.

Futuro incerto

Após Jogo da Guerra, o ERRO Grupo agora entra em um período de incertezas em relação a recursos para novos projetos, assim como a circulação de seu repertório mais recente, mas as ideias e as inspirações não param. O espetáculo foi contemplado pelo Prêmio Catarinense de Teatro, com o projeto Kriegsspiel – Jogo da Guerra, através do edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2017 da Fundação Catarinense de Cultura. Profissionais integrantes do ERRO e colaboradores, num total de 13 pessoas, trabalharam na montagem, produção, divulgação, criação, ensaios, pré-estreia, estreia e temporada, desde setembro de 2017.

Ficha Técnica de Jogo da Guerra

Atuação: Dilmo Nunes, Lígia Marina, Luiz Cudo, Luana Raiter, Rachel Seixas, Rodrigo Ramos e Sarah Ferreira.
Dramaturgia: Pedro Bennaton e Luana Raiter.
Direção de arte: Luana Raiter.
Técnica: Luiz Cudo e Rodrigo Ramos.
Assessoria de imprensa: Ana Letícia da Rosa.
Design gráfico e Webdesign: NoLab Arquitetura de Interfaces.
Fotos e registro audiovisual: PI Arte e Rodrigo Ramos.
Direção: Pedro Bennaton.
Criação, produção, coordenação e projeto: ERRO Grupo.

#jogodaguerra

About the season of Jogo da Guerra (Game of War) in Florianopolis and at the end of the project Kriegsspiel funded by the Edital Elisabete Anderle 2017: from freedom threat to a collective scene #jogodaguerra

The success of the presentations of Jogo da Guerra, the most recent work of ERRO, in Florianopolis’s downtown streets, is not due to normal factors, expected form cultural actions, and surprised the expectations of the group itself, and of course, of those who witnessed the work. The way this work provoked the participation, collectiveness of those present –  approximately 500 people in the 10 presentations form may to june –  was quite positive and inspiring for the group´s next steps.

Other than that, ERRO was able to raise 50 kilos of food and more than 100 pieces of clothing donated to the indigenous community of Morro dos Cavalos.

In counterpart, during the performances of Jogo da Guerra, ERRO had to overcome many obstacles, such as the constant intervention of the police, and others are to come:  the uncertainty about resources to give continuity to the group´s practice, a “nebulous” period, according to the show’s director and member of ERRO Group, Pedro Bennaton.

Public warriors

Jogo da Guerra (Game of War), a work performed in three parts, a triptych, was presented between the 30th of May and the 19th of June in three different and simultaneous places of the downtown Florianopolis. The opening night, made justice to the performance´s name, as war is characterized by exceptional circumstances.  In that same day, May 30th, Brazil lived a tense moment due to the truck driver’s strike.   There wasn´t gas or public transport, to people to be able to come see the show. Still, people managed to walk or ride bikes downtown to attend the show, marked at 8pm of Corpus Christi´s holiday. People showed up and participated in the extremely tense performance, tracked at all moments by military police in one of the main streets of the city, leaving behind tracks of the performances actions.

Tension in the streets

In Jogo da Guerra, people are constantly invited to participate in the actions. Inspired by May 1968 protests, the performance approaches our current political time and the limits of what can be done in the streets. Some performances needed to be “rehearsed” with the Municipal Guard and the Military Police, but with the passage of time the understanding was reached.

“The participation of the people in the street surprised our expectations. And it is obvious that the Municipal Guard and Military Police made our work difficult, with many approaches during the presentations, interfering in the middle of the scene with their vehicles and inquiries, although we sent, as we have done for the last five years, official communications of our shows to GM and PM. However, as the season progressed, they understood the proposal better and worked with us in various presentations. What seemed as a threat to freedom of expression became a collective scene that only magnified the power of the Jogo da Guerra” said Bennaton.

For the art director and performer Luana Raiter, the public’s participation in the decision of the actions of confrontation represented a great challenge for the group:

“Performing Jogo da Guerra ten times in Florianopolis’s downtown area was a great challenge for the team, because the places where the external actions took place (confrontational actions) are decided with the public and many times, the spaces of representative power to be attacked, were repeated. This required much caution, as the security teams of these places were already aware that we were “up for something”. The most contested places were private banks, fast-food chains, and churches. Another point that was repeated was the historical fig tree at Praça XV, which represented to the public man’s power over nature, where nature is displaced, isolated and put at service of tourism and its profits, “said Raiter.

Uncertain future

After Jogo da Guerra, ERRO Group enters a period of uncertainty regarding resources for new projects, as well as the circulation of its latest repertoire, but ideas and inspirations do not stop.

Jogo da Guerra was contemplated by the Santa Catarina Theater Prize, with the project Kriegsspiel – Game of War, through the open-call prize Elisabete Anderle de Estimulo a Cultura 2017 awarded by the Fundação Catarinense de Cultura. ERRO’s professionals and collaborators, with a total of 13 people, worked in the assembly, production, publicity, creation, rehearsals, preview, premiere and season since September 2017.